A história da Patagônia: como tudo começou
- Juliana
- 24 de fev.
- 10 min de leitura

Vamos combinar: todo viajante tem um quê de aventureiro em busca de extremos e marcos que desafiam os próprios limites, né? A gente quer é explorar o desconhecido, alcançar aquele lugar distante no mapa, essa é uma maneira de superar os desafios que temos em nossos corações, por isso, chegar ao “fim do mundo” é o objetivo de todo overlander
Essa vontade de conquistar os cantinhos mais remotos do planeta é o que move a humanidade há milênios. Foi essa curiosidade (e um pouquinho de teimosia, vamos admitir) que fez os antigos navegadores se jogarem no mar sem GPS, na cara e na coragem, em busca de novas terras. Afinal, quem resiste à ideia de ultrapassar barreiras e descobrir o que há além do horizonte?
Para todos os aventureiros, overlanders e apaixonados por esse lugar único, estamos desenvolvendo um projeto imersivo, que vai levar todos a uma viagem,
onde o cenário e as histórias vão prender a todos, você está preparado?

Para entender a história da Patagônia, vamos começar compreendendo a presença humana desde seus primórdios, os povos originários, em especial os Tehuelches, que por milhares de anos,foi a comunidade soberana na Patagônia ,e também sua integração com os primeiros europeus que “descobriram” essas terras longineas e extremas.
Em 1520, durante sua expedição, Fernão de Magalhães navegou pela costa da Patagônia, enfrentando ventos gelados e mares tempestuosos. O nome "Patagônia" foi dado por sua tripulação, que acreditava que os povos indígenas da região, os Tehuelches, tinham pés enormes (ou "patagóns" em espanhol antigo). Essa interpretação pode ter surgido das grandes pegadas deixadas pelos nativos com seus calçados de pele de guanaco.
Ao avançar para o extremo sul, Magalhães avistou diversas fogueiras acesas pelos povos indígenas da região. Ele batizou o local de "Tierra del Fuego" (Terra do Fogo), impressionado pela visão dessas chamas iluminando a paisagem inóspita e gelada. Após meses de exploração, Magalhães descobriu um estreito natural conectando o Atlântico ao Pacífico, hoje conhecido como o Estreito de Magalhães.

Ao sair do estreito, ele avistou o que chamou de "Mar Pacífico" (que na realidade, não é muito pacifico) devido à sua aparente calmaria. Esse feito não apenas abriu uma nova rota marítima, mas consolidou a expedição como um marco na Era das Grandes Navegações.
Mas afinal, quem foram os primeiros habitantes da Patagônia ?

Os primeiros habitantes da Patagônia foram povos indígenas que chegaram à região há cerca de 10.000 anos, durante o final da última Era Glacial. Eles provavelmente migraram da Ásia para as Américas através do Estreito de Bering, avançando gradualmente para o sul ao longo dos séculos. Entre os grupos mais conhecidos estão os Tehuelches, os Selk'nam (ou Onas), os Yámanas (ou Yaganes) e os Alacalufes (ou Kawésqar).
Esses povos foram pioneiros em explorar o continente sul-americano, adaptando-se às condições extremas da Patagônia. Acredita-se que eles tenham se estabelecido na região ao seguir rotas de caça e recursos naturais. No caso dos grupos nômades marítimos, como os Yámanas e Kawésqar, sua chegada envolveu o uso de canoas para explorar as águas frias e repletas de ilhas do extremo sul.
1. Tehuelches (nômades terrestres)
Habitaram as planícies e estepes da Patagônia continental.
Eram caçadores e coletores, com um modo de vida centrado na caça de animais como o guanaco, o choique (ñandú) e outros pequenos mamíferos.
Viviam em toldos, barracas feitas de pele de guanaco, que eram facilmente desmontadas para facilitar o deslocamento.
2. Selk'nam (ou Onas)
Viviam na Terra do Fogo, especialmente na parte norte da ilha principal.
Também eram caçadores, especializados na captura de guanacos e aves.
Tinham rituais e mitologias complexas, com destaque para a cerimônia do Hain, que marcava a passagem dos jovens para a vida adulta.
3. Yámanas (ou Yaganes)
Ocupavam o arquipélago da Terra do Fogo, especialmente áreas costeiras.
Eram nômades marítimos e dependiam da pesca, caça de focas e coleta de moluscos.
Navegavam em canoas rudimentares feitas de casca de árvore e suportavam o frio intenso com pouca roupa, cobrindo-se com gordura de animais para isolamento térmico.
4. Kawésqar (ou Alacalufes)
Viviam mais ao norte, no arquipélago
Assim como os Yámanas, eram nômades marítimos, pescadores e coletores.
Desenvolveram uma profunda conexão com o mar, que era sua principal fonte de sustento.
Tehueches, os verdadeiros “patagons”

Os Tehuelches foram um dos principais povos indígenas da Patagônia, vivendo nas vastas planícies, estepes e regiões montanhosas do sul da Argentina e do Chile. Eles eram nômades, adaptados ao ambiente extremo e às condições adversas da região. A seguir, um panorama sobre como viviam, seus costumes e organização social:
•Nômades caçadores-coletores:
Os Tehuelches se deslocavam constantemente em busca de recursos, seguindo as migrações dos animais que caçavam, especialmente o guanaco, a ema (ñandú) e outros pequenos mamíferos. Também coletavam frutos, raízes e sementes nativas para complementar sua dieta.

•Habitação:
Viviam em toldos, tendas feitas de peles de guanaco sustentadas por varas de madeira. Esses abrigos eram portáteis, permitindo que fossem desmontados e transportados com facilidade conforme mudavam de lugar.
•Vestimenta:

Usavam roupas feitas de peles de guanaco, adaptadas para protegê-los do frio intenso. As peles eram costuradas com tendões de animais e decoradas com pinturas geométricas.
•Arte e ornamentos:
Criavam arte em objetos do dia a dia, como ferramentas e peças de cerâmica. Também pintavam o corpo e utilizavam adornos para marcar eventos importantes ou rituais.

•Rituais e Espiritualidade:
Os Tehuelches tinham uma rica mitologia e praticavam rituais relacionados à natureza e aos ciclos de vida. Eles acreditavam em espíritos e forças naturais, que influenciavam sua visão do mundo. Cerimônias coletivas, danças e cânticos eram comuns em momentos importantes, como celebrações de caça bem-sucedida ou mudanças sazonais.
•Língua:
Falavam línguas da família Chon, como o Aonikenk, que hoje está extinta.
•Estrutura social:
Os Tehuelches viviam em grupos familiares ou bandos que se organizavam de forma independente. Cada bando era formado por várias famílias, unidas por laços de parentesco.
•Liderança:

A liderança era exercida por um cacique ou chefe, escolhido pelo respeito conquistado no grupo, geralmente devido à sua experiência, coragem, habilidade de caça e capacidade de resolver conflitos. Esse líder não exercia poder autoritário, mas orientava e tomava decisões importantes em consenso com os outros membros do grupo.
Adaptação ao Ambiente
Os Tehuelches tinham um conhecimento profundo do ecossistema patagônico. Eles sabiam identificar as melhores rotas de caça, prever mudanças climáticas e utilizar os recursos naturais com eficiência. Suas técnicas de sobrevivência incluíam:
•Uso de pedras afiadas e arcos para caçar.
•Aproveitamento integral dos animais: peles para roupas e tendas, carne para alimentação, ossos e tendões para ferramentas.
Contato com os Europeus

O encontro com exploradores europeus a partir do século XVI trouxe mudanças drásticas para os Tehuelches. As doenças trazidas pelos colonizadores, a perda de território e a introdução do cavalo (que revolucionou sua mobilidade) impactaram profundamente sua cultura e modo de vida.
Apesar de todas as adversidades, a memória dos Tehuelches e de sua rica cultura permanece viva na história e nos descendentes indígenas da região.

Yamanas , os povos marítimos
Os Yámanas (ou Yaganes) eram um povo indígena que habitava as ilhas do arquipélago da Tierra del Fuego, no extremo sul da América do Sul. Eles eram conhecidos por sua impressionante adaptação a um ambiente frio, úmido e inóspito, vivendo como nômades marítimos em uma das regiões mais desafiadoras do planeta.
•Nômades marítimos:
Os Yámanas passavam grande parte do tempo navegando em canoas feitas de cascas de árvores, especialmente o lenga. Essas canoas eram usadas para se deslocar entre as ilhas, pescar e coletar mariscos.
•Alimentação:
Sua dieta era rica em proteínas, composta principalmente de frutos do mar, como mariscos, mexilhões, peixes e focas, além de aves marinhas e, ocasionalmente, carne de guanaco.
•Habitações:
Quando em terra, construíam abrigos simples e temporários com galhos e cobriam-nos com peles de animais. Esses abrigos eram feitos rapidamente, refletindo sua natureza nômade.
•Pouca roupa:
Apesar das temperaturas baixíssimas, os Yámanas usavam poucas roupas, cobrindo-se com capas de pele de lobo-marinho ou guanaco. Eles dependiam da gordura corporal e de constantes fogueiras para se manterem aquecidos.
•Fogueiras:
As fogueiras eram uma parte essencial de sua vida. Os Yámanas mantinham chamas acesas tanto nos acampamentos quanto nas canoas, utilizando pedras como base para evitar incêndios. Essas fogueiras eram tão comuns que impressionaram Fernão de Magalhães, que batizou a região como Tierra del Fuego.
•Linguagem:
A língua Yámana era rica e refletia sua conexão com a natureza, com palavras específicas para descrever diferentes tipos de ventos, marés e paisagens.
•Estrutura social:
Viviam em pequenos grupos familiares e não tinham hierarquias rígidas. As decisões eram tomadas coletivamente, com base na experiência e sabedoria dos membros mais velhos.
•Espiritualidade:
Os Yámanas acreditavam em espíritos e tinham uma forte conexão com a natureza. Seus mitos e lendas eram transmitidos oralmente, preservando suas tradições e explicando fenômenos naturais.
•Canoas:
As canoas eram fundamentais para seu modo de vida. Feitas de cascas de árvores, eram resistentes e leves, permitindo que se deslocassem rapidamente pelos canais estreitos da região.
Desafios e Contato com os Europeus
Com a chegada dos europeus no século XIX, os Yámanas sofreram drasticamente. A introdução de doenças, a exploração de recursos e a colonização reduziram significativamente sua população. Além disso, missionários tentaram forçar a assimilação cultural, eliminando muitos aspectos de sua identidade.
Hoje, apesar de estarem quase extintos como grupo étnico, a história e a cultura dos Yámanas continuam sendo estudadas e celebradas como parte do patrimônio da Tierra del Fuego.

Primeiros Sinais da presença dos povos originários - Cueva de las Manos, Río Pinturas
Um dos lugares mais impressionantes da Patagônia, um verdadeiro tesouro arqueológico é Cueva de las Manos, e claro, faz parte de nosso roteiro na Expedição Patagonia Full Adventure do mês de março
A Cueva de las Manos, localizada no Río Pinturas, contém um conjunto excepcional de arte rupestre, realizada entre 13.000 e 9.500 anos atrás. Seu nome (Caverna das Mãos) deriva dos contornos de mãos humanas estampados nas paredes da caverna, mas também há muitas representações de animais, como os guanacos (Lama guanicoe), ainda comuns na região, bem como cenas de caça. As pessoas responsáveis por essas pinturas podem ter sido os ancestrais das comunidades históricas de caçadores-coletores da Patagônia, encontradas pelos colonizadores europeus no século XIX.

A Cueva de las Manos, no Río Pinturas, contém um extraordinário conjunto de arte rupestre, com muitos abrigos rochosos pintados, incluindo uma caverna, que apresenta magníficas pictografias cercadas por uma paisagem impressionante. O rio atravessa um profundo cânion, e as pinturas foram feitas entre 9.300 e 1.300 anos atrás.
O nome da caverna vem dos contornos de mãos humanas estampados em suas paredes. Além disso, há muitas representações de animais, como guanacos, e cenas de caça que mostram interações dinâmicas e naturalistas entre humanos e animais. A entrada da caverna é protegida por uma parede de rocha coberta por várias silhuetas de mãos. No interior, existem cinco concentrações de arte rupestre, com figuras e motivos mais recentes frequentemente sobrepostos aos de períodos anteriores.
As pinturas foram feitas com pigmentos minerais naturais, como óxidos de ferro (vermelho e roxo), caulim (branco), natrojarosita (amarelo) e óxido de manganês (preto), moídos e misturados com algum tipo de aglutinante.
A sequência artística, que inclui três principais grupos estilísticos, começou no 10º milênio a.C. As investigações arqueológicas mostraram que o local foi habitado pela última vez por volta de 700 d.C. pelos possíveis ancestrais dos primeiros Tehuelches da Patagônia. A Cueva é considerada pela comunidade científica internacional como um dos mais importantes sítios dos primeiros grupos de caçadores-coletores da América do Sul durante o Holoceno Inicial.
A arte rupestre, seu ambiente natural e os sítios arqueológicos da região foram foco de pesquisas por mais de 25 anos. As representações artísticas, a variedade de motivos e suas policromias causam um grande impacto nos observadores. Essas cenas são uma evidência única do comportamento e das técnicas de caça dos primeiros caçadores da Patagônia.
A Cueva de las Manos contém uma coleção notável de arte rupestre pré-histórica que testemunha a cultura das primeiras sociedades humanas da América do Sul.
Integridade
A área inscrita abrange 600 hectares com uma zona de amortecimento de 2.338 hectares. Os atributos do local, representados pelo sítio arqueológico, o entorno e suas representações artísticas, estão plenamente preservados e não enfrentam ameaças iminentes de desenvolvimento ou negligência.
O habitat ao redor permanece intacto, com espécies animais e vegetais similares às retratadas há cerca de 10.000 anos. As condições favoráveis (baixa umidade, ausência de infiltração de água e estabilidade das rochas) garantem excelente estado de conservação das pinturas, exceto as mais expostas. Contudo, o aumento do turismo à Patagônia causou danos, como vandalismo, grafites, remoção de fragmentos pintados e acúmulo de resíduos. Medidas foram implementadas para reduzir esses impactos.
Autenticidade
A autenticidade da arte rupestre da Cueva de las Manos é inquestionável. Ela sobreviveu por milênios sem intervenções, e nenhuma restauração foi realizada desde que se tornou amplamente conhecida na comunidade científica no século XX. As escavações arqueológicas têm sido muito restritas para obter informações culturais sem perturbar as camadas arqueológicas.
Proteção e Gestão
Desde 1975, diversas leis argentinas foram implementadas para a proteção do patrimônio histórico, arqueológico e paleontológico, incluindo sua declaração como Monumento Nacional Histórico em 1993. Um plano de gestão foi introduzido em 1997, com ações como monitoramento local, estratégias de manejo de visitantes e criação de um centro de interpretação.
A criação do Comitê do Sítio Cueva de las Manos em 2006 reforçou os esforços de proteção. A presença permanente desse comitê na vila mais próxima, Perito Moreno, é recomendada para facilitar a resolução de problemas e fortalecer a gestão do local
A Cueva de las Manos foi tombada como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1999. Este reconhecimento representa a valorização internacional de sua importância cultural, histórica e artística. A inclusão na lista de Patrimônios Mundiais destaca a Cueva como um exemplo único de arte rupestre, preservando a memória das primeiras sociedades de caçadores-coletores da América do Sul e sua relação com o ambiente natural.
O que representa o tombamento pela UNESCO?
1. Proteção internacional: Garante esforços contínuos para preservar o sítio contra ameaças como vandalismo, turismo descontrolado e deterioração natural.
2. Reconhecimento cultural: Valoriza o sítio como parte do patrimônio cultural e natural da humanidade, não apenas de interesse local ou nacional, mas global.
3. Apoio financeiro e técnico: Abre portas para financiamentos e expertise técnica em conservação.
4. Sensibilização: Aumenta a conscientização sobre a importância do local e incentiva o turismo sustentável.

Como funciona a visitação?
• Acesso: A Cueva está localizada na província de Santa Cruz, na Patagônia argentina, a cerca de 163 km da cidade de Perito Moreno.
• Guias locais: A visita geralmente é feita com guias especializados, que explicam o contexto histórico, artístico e arqueológico do local.
• Limitação de visitantes: Para proteger as pinturas, o número de visitantes por dia pode ser limitado, especialmente nas épocas de maior movimento.
• Regulamentações: Os visitantes devem seguir regras estritas, como evitar tocar as paredes ou deixar resíduos.
• Estrutura: Há trilhas organizadas, áreas de observação e um centro de interpretação que contextualiza a história da Cueva e suas pinturas.
A visitação é uma experiência enriquecedora, mas deve ser conduzida de forma sustentável para garantir a preservação desse tesouro cultural para futuras gerações.
Venha conhecer muito mais sobre a Patagônia participando de uma Expedição (Road Trip) imersiva de 26 dias . A Expedição Patagônia Full Adventure é uma forma maravilhosa de conhecer a fundo esses lugares sensacionais, com a melhor equipe de profissionais especialista na região.

Vamos viajar juntos, faça parte da família ANDES
Dicas da Guia Juliana
Visite o Museu Marítimo do Presidio de Ushuaia (tem um setor sobre os povos originários)
Visite o Museu Leleque - RP 15 - Chubut (uma imersão na cultura tehuelche )
Se possível, visite o Parque Patagonia na região da cidade de Perito Moreno ( além do Cueva de las Manos, um dos sítios arqueológicos mais impressionantes, o parque possui trilhas e faz parte de um projeto de preservação chamado Rewilding